terça-feira, 2 de outubro de 2007

Tropa de Elite

O mais novo sucesso da pirataria nacional, vem causando sabor amargo na boca de muita gente e não estou falado de autoridades.

O filme que ainda nem estreou nos cinemas é em primeira pessoa, na do Capitão Nascimento (Wagner Moura), do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar – BOPE. Nascimento é um policial incorruptível, ultraconservador e por conseqüência da segunda característica machista, arrogante, prepotente e autoritário... ou será isso por conta do primeiro rótulo? Enfim... não importa. Nascimento narra a sua estória e a de dois policiais militares: Mathias (André Ramiro) e Neto (Caio Junqueira) que por sua vez também são policiais honestos. Dentro da narrativa de Nascimento é abordado de forma bem clichê a desorganização e má administração da PM, dotada de empregados mal qualificados, com má remuneração e uma péssima distribuição nos setores da instituição. Por outro lado se favorece de artifícios pouco convencionais a realidade brasileira: a insubordinação de dois aspirantes honestos a alta cúpula da polícia que é corrupta.

O diretor José Padilha jogou dentro de sua obra os grupos básicos da sociedade brasileira, A polícia, que é dividia entre os corruptos: a PM (que não contém o tráfico), e os decentes: o BOPE (que combatem o tráfico), os setores médios, representados pela comunidade acadêmica (que financia o tráfico) e a camada marginalizada (que realiza o tráfico). Nesse contexto, dois desses grupos são analisados de forma mais real e profunda. Quanto à comunidade acadêmica, o que ocorre é uma superficialização, onde os estudantes de direto, numa discussão sobre repressão policial, são donos de retóricas mais compatíveis com estudantes de publicidade, administração e alunos do ensino médio. Mas o ponto alto dessa supeficialidade é quando Foucault entra no filme sobre a explanação de Maria (Fernanda Machado), além da pífia descrição dos ensaios do intelectual ela ainda se assemelha às aulas dadas pelo professores do Mútlipa Escolha.

Como o filme é narrado em primeira pessoa é inevitável não saber dos pensamentos e filosofias do Capitão Nascimento, de seu raciocínio sobre o que é ser um policial, o que é um ser-humano e do que é correto. Nascimento vê a classe média como desestabilizadora da ordem e não enxerga valores como liberdade, talvez seja porque não a possui de certo modo e esse desejo demasiado de tê-la acaba lhe pondo em descontrole e perder o motivo pelo qual a desejou. Em certos momentos ele mostra-se contraditório ou indeciso, pois apesar de considerar inteligência e autoridade pontos que jamais podem ser separados dentro da sua profissão, acredita que uma pessoa possa adquirir inteligência, mas dúvida que outra se torne mais autoritária. Até que sua posição hierárquica superior e laços afetivos alheios rompidos provam pra ele mesmo que está errado em sua dúvida, e Mathias que antes fosse o exemplo de policial que o país precisava se tornasse o exemplo de policial que Nascimento achava coerente.

Nascimento talvez não tenha noção que a estruturação do Estado brasileiro, a administração imperial, a política de crescimento baseada na concentração de renda, a liberação exagerada do mercado nacional para a exploração estrangeira, a ditadura do consumo e a falta de planejamento para mudanças radicais na sociedade como a abolição da escravidão e o êxodo rural fossem responsáveis pelas atuais leis se tornarem obsoletas e incontemplativas para muitos brasileiros, fazendo com que as mesmas não fossem cumpridas e ele obrigado resgata-las e reprimir quem não a respeitasse.

As interpretações impecáveis de Wagner Moura, André Ramiro, Fabio Lago e Caio Junqueira extrapolando sensibilidade e domínio de personagens complexos e conflitantes, junto com sua fotografia repleta de contrastes e exagero de muito branco, amarelo e preto, fazem a total diferença na construção do todo. O fato também de ser um filme com uma visão conservadora também é bastante interessante, pois não me recordo de visto o olhar de um policial nesse contexto. Apesar de ser agonizante e dar um tapa na cara dos mais libertários, o filme sai do tradicional, mostrando não só a realidade, apesar dessa está apenas com roupas intimas, mas a ótica de quem mais do que ninguém respira, ingere e vive a guerra civil carioca, vendo seus ideais e valores sendo deteriorados e tendo a preocupação diária de estabelecer a paz e a ordem, mesmo sendo a sua, pois apesar de estar numa guerra o outro lado permanece bem mais confortável na situação que os legalistas.


TROPA DE ELITE
Gênero: Drama
Tempo de Duração:
Produção: Brasil, 2007
Direção: José Padilha
Elenco: Wagner Moura, André Ramiro, Caio Junqueira, Fernanda Machado, Fernanda de Freitas, Fabio Lago
Roteiro: Bráulio Mantovani, José Padilha e Rodrigo Pimentel

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