domingo, 19 de agosto de 2007

Terra de sonhos

Emoção em demasia com uma história fictícia? Um extenuante trabalho na construção dos personagens pode ser relevante pra essa conclusão.


Mais do que um bom roteiro, uma boa fotografia, até mesmo boas interpretações, a história de vida dos personagens conduzem a nuances que mesmo podendo não ser facilmente observadas, são totalmente perceptíveis: elas enfatizam uma solidez nas emoções e atitudes para com a personalidade e conclui expressando uma forte segurança, ou seja, convence. Em Terra dos Sonhos do diretor Jim Sheridan (Em nome do Pai), um certo momento na vida de uma família é dotado de conflitos psicológicos fortes, insegurança e reflexos do passado.

A mudança para uma nova cidade deveria representar um novo rumo na vida dessas pessoas, só que eles não se dão conta que pra fazer que o passado não tenha influência no presente é preciso isola-lo totalmente, esquecer no sentido literal da palavra, ou apenas não o ter vivido, e como não conseguem, cada um começa a liberar uma defesa, e revelar uma fragilidade que é demonstrada em certas frases chaves. Em um dos pontos máximos do filme essas articulações entram em contradição, o personagem Mateo (Djimon Hounson) não consegue habilidade suficiente para separar tais elementos, ele os mistura, nunca se sabe quando força uma atitude alheia a si ou está mostrando sua fragilidade. No momento em que se aproxima da família consegue enxergar uma nova via que pode seguir, via essa mostrada por Ariel (Emma Bolger) , que além da mais nova é a mais forte da família, sempre tenta envolver as pessoas em momentos de descontração sendo isso um artifício a que ela mesma usufrui para autodesopilar. Uma menina fantástica que mostra persistência a todos os monstros que ameaçam sua felicidade. Já sua irmã mais velha, Christi (Sarah Bolger) é vista como a mais cansada e estagnada, pseudo-protótipo de cineasta, sua visão sempre está registrada e nem sempre com olhos felizes. encontra-se perdida entre os surtos da mãe, a insensibilidade do pai, e a "inocência" da irmã.


Dentre todos os Johnny (Paddy Considine) e Sara (Samantha Morton), são afetados diretamente, tem juntos o impulso para mudar de cidade e recomeçar, porém, não é suficiente e isto apenas os iludem, fazendo ter sonhos tão superficiais e vagos quanto sua atitude. O chefe da família não consegue emprego como ator, pois lhe falta emoção, e não só para interpretar, mas para as diversas coisas inclusive um abraço. Cercado por esse contexto a realidade vai caindo na consciência e Johnny tenta analisar as causas e os efeitos de sua fraqueza.


A vida é feita por acontecimentos do presente e do passado que interagem em harmonia, a deturpação de um desses fatores que os compõem causam incomodações e inquietações que vão expressar em reflexos durante toda nossa vida, sejam nas coisas mais simples ou nas mais profundas, alimentando sentimentos decorrentes dessas frustrações e nos transportando novamente para o momento indesejado, Johnny talvez encontrou a solução para os seus conflitos e os da sua família, olhou para o céu e deu adeus para o passado e para o símbolo que ele representava e ainda o atribuiu em uma nova coisa, um novo ser. Se esse adeus não for tão efêmero quanto à representatividade da sua mudança, ele deve ter encontrado um novo sentido e marcado uma nova etapa na sua vida.


Jim Sheridan além de dirigir foi co-roteirista do longa junto com suas duas filhas, Jim na realidade era o personagem de Paddy, e foram feitas algumas alterações num momento da família de Jim e isso resultou no roteiro do filme, um trabalho em família sobre a família. Principal causa para que os personagens fossem tão bem compostos e o filme abrigo de emoções tão fortes e sutilezas tão evidentes.


TERRA DE SONHOS (IN AMERICA)
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 103 minutos
Produção: EUA, 2003
Direção: Jim Sheridan
Elenco: Paddy Considine, Samantha Morton, Sarah Bolger, Emma Bolger, Djimon Hounson
Roteiro: Naomi Sheridan, Kirsten Sheridan e Jim Sheridan

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